quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Pílula para todas?


por Helena Cruz


A pílula, sem dúvida, foi um marco na vida das mulheres ocidentais. Todavia é importante lembrar que muitas mulheres no mundo, e até mesmo no Brasil, ainda não têm acesso à ela. Devido a diversos fatores, dentre eles, renda, religião, preconceito etc.


Como será a vida, por exemplo, das mulheres afegãs na foto? Eu sei pouco, mas tenho certeza de que é muito diferente da nossa! Apesar de termos um ponto em comum: a religião católica (maioria no Brasil), assim como a islâmica (maioria no Afeganistão), não apoiarem o uso da pílula.


Ao fazer essa reflexão muitas perguntas me vêm à mente, dentre elas:


- Será que algum dia a liberdade que possuímos aqui as alcançará ou o mundo está ficando cada vez mais ortodoxo e teremos uma regressão? (parêntesis aqui, assustou-me bastante o discurso sobre aborto na campanha presidencial, ambos os partidos com uma visão totalmente conservadora, ignorando a discussão de um tema extremamente importante para a saúde pública)

- Quanto tempo ainda demorará para a pílula ser aceita por todas as religiões?

- A religião católica, assim como a islâmica, não permitem o uso da pílula até hoje. Até quando será necessário o “descolamento” da religião para fazermos o que pensamos ser melhor para nós mesmas?

- Imagine o impacto que tem nas pessoas mais simples extremamente católicas o discurso de um padre falando para não usar pílula nem camisinha. Até quando será assim?


Acredito que ainda há muito o que evoluir…

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Amar sem medida

por Helena Cruz


Primeiramente feliz 2011 a tod@s, saúde e sorte! Então eu vou me apresentar, sou sagitariana, tenho 27 anos e me encanto facilmente pelas pessoas. Ao contrário da Laura (primeiro post de 2011), as pessoas acham que sou mais nova do que realmente sou. Meus sentimentos são facilmente identificados no momento que os sinto, tanto a alegria quanto a tristeza. E choro mesmo, fico vermelhinha, soluço.. sofro no momento e depois passa, lava a alma.


Meu pai é chileno e minha mãe brasileira. Conviver com dois mundos diferentes me fez gostar, aceitar e questionar diferenças culturais, sociais, econômicas etc. desde muito cedo. E, também, aguçou a minha curiosidade por novos países. Gosto muito de viajar e sou aventureira, mas em relação a homens sou super pé no chão. Eu gosto de relacionamentos sérios e verdadeiros, recheados de muita amizade e cumplicidade. Apaixono-me facilmente e a frase do Vinícius “Que seja infinito enquanto dure” se encaixa bem. Sou intensa nos sentimentos, amo sem medida. Adoro também sair, encontrar os amigos, dançar, namorar, enfim, celebrar a vida.


Tenho que admitir que não gosto de pílula, mas agradeço muito por ela existir! Já experimentei várias marcas e até o anel vaginal e não me adaptei. Não gosto dela por vários motivos, dentre eles, porque me enche de celulite, me incha e é uma coisa que tenho que fazer igual todos os dias. Eu creio que há muito ainda que evoluir. Porém, atualmente me livra dos ovários policísticos e de engravidar antes da hora desejada. Por isso, sou muito feliz por sua existência! Sou muito grata também pela sua importância histórica discutida no blog.

Em relação à carreira, sou economista e trabalho na área de economia social. No momento estou terminando um mestrado em demografia na UFMG e quero fazer um doutorado após o mestrado, pois amo minha área de pesquisa. A opção de fazer o mestrado não foi fácil. Viver de bolsa do CNPQ aos 27 anos é tarefa árdua e continuar com o doutorado então, nem se fala. Mas faço o que gosto e vejo como um investimento para o futuro. Entristece-me, no Brasil, a grande desigualdade de rendimentos, educacional e de acesso à saúde com qualidade. Como faço pesquisas na área, espero continuar e algum dia poder contribuir para melhorar a situação do país.

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

O controle em questão

por Telma de Souza Birchal


Nas últimas décadas assistimos a um enorme aumento da capacidade do ser humano de agir sobre a natureza em geral, o que significou também a ampliação da possibilidade de controle sobre a esfera reprodutiva, mediante as biotecnologias. O cenário da humanidade hoje é outro do que em meados do século passado: as técnicas de reprodução artificial e o diagnóstico genético pré-implantação são uma realidade, tornando a reprodução cada vez mais um assunto submetido às escolhas mais que ao acaso. Altera-se também a maneira como as pessoas entendem as relações parentais e familiares, que assumem novos formatos. Colocam-se para o futuro, mais ou menos realisticamente, outras possibilidades de controle na forma de manipulação genética, da produção de bebês “à la carte” e da clonagem de seres humanos. Tudo isso provoca debates acalorados em nossa sociedade: a possibilidade de planejar, escolher, “desenhar” os filhos vem para o bem ou para o mal?


No entanto, antes mesmo de falarmos em inseminação artificial, clones ou manipulação genética, sem dúvida o mais significativo aspecto do controle facultado pelas biotecnologias em aspectos reprodutivos foi a invenção, há cinqüenta anos, da pílula anticoncepcional. Hoje, 100 milhões de mulheres no mundo fazem uso do medicamento (dados obtidos na Ciência Hoje) e a taxa de fertilidade no Brasil caiu de 5,8 filhos no início da década de 70, para 1,95 filho em 2009. Ao mesmo tempo, a participação da mulher no mercado de trabalho passou de 28,8% para 45,1%, segundo dados da Fundação Carlos Chagas e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Esta revolução está, em grande parte do mundo, assimilada e não levanta mais problemas éticos de cunho geral. Permanecem: 1- a condenação, feita por Paulo VI em 1968 na Encíclica Humanae Vitae, de todo método que torne impossível a procriação, e 2- a proibição do uso do método por algumas outras confissões religiosas, além do catolicismo. As condenações baseiam-se, em geral, em concepções determinadas da ética sexual e do papel atribuído às mulheres. Há também críticas advindas de novos movimentos feministas, que ressaltam o valor da diferença e advogam a libertação das mulheres de um modelo de vida dominado pela lógica do mercado. No entanto, de maneira quase consensual, o uso da pílula e de outros métodos anticoncepcionais é visto como algo de positivo e que contribui, sobretudo, para a autodeterminação das mulheres e para o planejamento das famílias. Este é também o meu ponto de vista: a pílula aumentou a possibilidade de dissociar sexualidade e reprodução (o que é um ponto essencial da sexualidade humana) e de colocar a maternidade na esfera da escolha, o que só pode ser celebrado.

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

A tal da pílula

por Laura Serra


Bom, vamos à motivação principal deste blog, a pílula, não é mesmo?


Aos quinze anos também fui diagnosticada com ovários policísticos. Aliás, ginecologistas de plantão, vi em vários depoimentos aqui do blog, mulheres relatando a mesma coisa. Daí pergunto: será que tínhamos todas ovários policísticos mesmo ou isso é só um artifício que vocês usam com adolescentes para servir de método contraceptivo de uma vez, rsrsrs? O fato é que também não tive que passar pelo constrangimento de ter que abrir o jogo para meus pais, dizendo que precisaria começar a tomar pílula quando iniciei minha vida sexual. Se bem que eles sempre confiaram em mim e nunca vieram falar sobre isso comigo antes que me sentisse preparada para responder.


Na verdade respeitei meu tempo mesmo e minha primeira vez foi aos 19 anos, com meu segundo namorado. Sério. Foi maravilhoso! Eu estava completamente apaixonada por ele e ele por mim. E, hoje, posso dizer que tive sorte, pois, realmente, foi tudo muuuuuito bom! Apesar de ele ter um gênio difícil, de personalidade forte, como dizia um primo meu. Lembro-me de que ele ficou triste por ter sido o primeiro. Sério mesmo, rsrsrs. Ele adotava certa teoria que pregava que uma mulher deve experimentar vários “chapéus” antes de resolver com qual ficar para escolher aquele que lhe serve melhor. “Muderninho”, né? E… digamos que ele tinha razão…


Depois dele tive alguns rolos, mas um tempo depois engatei um namoro sério que durou cinco anos e meio e no qual vivemos na plenitude de um amor perfeito até que…. Bem, já não sabia mais se realmente queria ficar com ele para o resto da minha vida e achava que eu e ele precisávamos viver outras coisas… É claro que a distância imposta pelos projetos do meu trabalho e a carga horária que o trabalho dele exigia contribuiu muito para o término do relacionamento. Foi uma decisão consciente, e apesar de ele ter tomado um certo baque no início e de eu também ter me sentido sem chão ao voltar para a minha cidade depois de um ano morando fora, sinto que hoje sabemos que está sendo bom para nós dois. E guardamos com muito carinho uma história linda juntos, sem mágoas ou ressentimentos um do outro. Durante todo esse tempo, a pílula foi minha grande aliada, e continua sendo. Acredito que hoje vivemos num mundo mais livre no qual podemos nos permitir mais experiências e assim tomar decisões de forma mais consciente. Eu continuo acreditando no amor e na família e, tenho certeza de que, se me casar ou for morar com alguém, será para sermos felizes! E que seja, pelo menos, eterno enquanto dure, rsrsrs. Assim sempre foi e sempre será para mim!

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Take me as I am

por Laura Serra


Bom, nesse primeiro texto tenho a difícil tarefa de tentar me descrever. Então vamos lá…


Quem me conhece, de cara, sempre diz que pareço ser mais velha do que realmente sou. Mas não no sentido ruim e sim por ter uma presença forte, com postura confiante, íntegra, paciente, com tom de voz mais grave e que sabe a hora de falar e de ouvir, medindo bem as palavras. Realmente sou uma boa ouvinte, e acho que fui aprimorando essa minha qualidade pelo tipo de trabalho que faço. Sou consultora da área de gestão e preciso ficar muito atenta ao que as pessoas falam, pois na maioria das vezes, as grandes oportunidades de ganho ou melhoria estão nos pequenos detalhes e comentários que as pessoas soltam.


Confesso que realmente sou pacífica, apesar da alma ariana, mas acho que é porque tento me conter depois de ter quebrado a cara algumas vezes por sair falado e fazendo o que queria. Aí não dá outra, quem fala o que quer, geralmente ouve o que não quer mesmo… Acho que tenho alguns botões que quando acionados, ai caramba, aviso: você acionou uma bomba, kkkkkkkk! E isso para tudo! Faço de tudo para não entrar em uma briga, mas se entro também pago para não sair!


No fundo sou sensível sim, mas detesto sofrer e ficar melancólica, por isso dou um jeito de me curar rapidinho de decepções. Tenho uma amiga que um dia me falou que eu sou muito cara de pau, pois toda vez que conheço um cara que fica muito empolgado, prometendo mundos e fundos, falo que tenho medo de me envolver demais, ceder e depois sofrer, mas segundo ela não sofro porcaria nenhuma. Se o cara pisa na bola faço um comentário aqui, outro ali, e na próxima semana já estou pronta para outra, rsrsrrs.


Mas aviso amiga, é porque tenho um jeito muito fácil de superar as coisas. Se vejo que o cara está afim mesmo e o sentimento é sincero faço de tudo para que ele e eu sejamos felizes. Sou dessas companheironas que apóiam, colocam o cara “para frente”, aplaudem o sucesso dele, perdoam os fracassos, amam com toda a força! Mas se vejo que o negócio é meio papo furado, saio fora e esqueço mesmo, deixo tudo no passado. Foi como disse para aquela amiga: não tenho problema de auto-estima, gosto de quem gosta de mim, confesso que sou um pouco orgulhosa, rsrsrs.


Quando pequena era da “pá virada”. Super comunicativa, ativa e, para alguns, até meio inconsequente. Minha diversão era sair pela rua de pés descalços, fazer aventuras no riachinho, andar de bicicleta, descer a pirambeira do meu bairro sem freio e com alguma vizinha em busca de fortes emoções em cima do guidon, kkkkk. Adorava também fazer teatro, juntar o pessoal do bairro, montar peças e chamar toda a vizinhança para assistir. Como era desinibida, queria sempre fazer o papel principal, e decorava o texto diretinho, tinha muita facilidade de imitar pessoas e sotaques. Acho que por isso tenho facilidade em aprender línguas. Amo falar outros idiomas.


Gostava de andar com meninos também. Acho que por ter um irmão com quem me dou suuuuuper bem. E dou graças a Deus por não ter tido irmã porque acho que não ia ter paciência para crises de fragilidade ou de implicâncias por bobagens e picuinhas, que normalmente nós mulheres temos. E eu admirava meu irmão. E ainda admiro, claaaaro. Mas lembro-me que queria ser como ele, fazer o que ele fazia. Lembro-me também que aprendi a dar nós nos sapatos por causa dele, pois claro, ele era mais velho e aprendia as coisas antes de mim. Talvez aí o início da minha precocidade.


Machucava muito. Nossa, como meus pais devem ter sofrido! Estava sempre planejando minha próxima aventura, mas nunca pensava nos riscos, rsrsrs. Mas meus pais também nunca me censuraram por nada, mesmo depois de: ter tido traumatismo craniano aos 3 anos; ter caído da escada para, segundo meu irmão, buscar uma boneca que tinha caído; ter dado ponto na cabeça, no joelho, no pé; ter esfolado a bunda depois de descer num tobogã de vestido; ter caído de cara numa piscina vazia (não achei que tinha água não viu, rsrsrs!, brincávamos de ranca na piscina da escola e tinha saído correndo, toda esbaforida porque o sinal estava tocando para voltar para a sala de aula, em busca do meu chinelo que tinha ficado para trás e, pum, tropecei e caí de cara).


Ahhh, foram tantas quedas, machucados, pontos… Mas nunca quebrei um osso. E falo isso com o maior orgulho, apesar de querer ter usado gesso. Lembro-me que uma vez eu e minha prima conseguimos gesso com um médico maluco (claro que maluco, onde já se viu dar gesso para criança?) e engessamos nosso braço, ai ai.


Fui, de fato, criada para o mundo. Esse foi o maior presente que meus pais me deram. Com pouca idade morei um ano na Austrália por intercâmbio escolar, depois seis meses na Bélgica durante o período da faculdade e, recentemente, voltei dos EUA depois de ter participado de dois projetos de consultoria pela empresa onde trabalho.


Detesto fofoca, mesquinharia, desigualdade e preconceito! Sou uma pessoa prática e feliz. Enfim, de bem com a vida!

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Será que o amor é o X da questão?

por Ana Raquel


Andando pelas ruas do meu bairro com um amigo, fizemos uma análise sobre o comportamento de outro amigo nosso. Ele disse:


— Estou preocupado com o Roberto


— Eu sei, também estou


— Ele está indo para esta festa cheio de esperanças de que vai voltar com a Núbia


— Sim, e ele está se preparando por esta festa há muito tempo. Pelo menos há uns três meses


— Mesmo? Como você sabe?


— Ué, porque você acha que ele emagreceu, entrou na academia mais cara de São Paulo e não pára de malhar que nem um louco? Ele não é atleta...


— É verdade... Por isso ele está nessa loucura de malhar todos os dias. Como eu não percebi isso antes?!


— Você não percebeu porque esse é um comportamento típico de mulher. Malhar ou fazer regime para se preparar para um evento. Você se lembra de quando eu namorava o Otávio? Antes de encontrá-lo em BH, fazia um regime de frango e arroz integral por uma semana. É a mesma coisa!


Nesse dia, continuei com isso na cabeça por muito tempo. Nós mulheres nos preparamos por uma festa, uma viagem, um encontro... E muitas vezes, nem mesmo há um objeto de desejo em questão. Os rituais de preparação femininos sempre existiram e continuam ocorrendo, independente das conquistas e emancipação alcançadas por nós, após o surgimento da pílula.


Entretanto, o comportamento do meu amigo foi obviamente feminino pelo fato de ele estar apaixonado. Então, quando os homens amam, ficam femininos? Os homens têm os cromossomos XY e as mulheres XX. Será que o amor está no X? Naquilo que nos torna mais próximos um do outro? Será que não somos tão diferentes assim? Várias indagações filosóficas sobre os sexos surgiram a partir daí...


Não acredito que esse tipo de comportamento masculino seja uma novidade devido às nossas conquistas femininas. Afinal de contas, o amor sempre existiu. (Eu acho...rsrsrsrs). E estamos todos sujeitos a ele, independentemente do sexo.


Biologicamente temos nossas óbvias diferenças físicas e, como já sabemos, nossas outras características são determinadas não só pela genética, mas também pelo ambiente. Homens sofrem e choram por amor, assim como as mulheres também podem ser duras, frias e indiferentes quando querem. Temos todos os clichês ao nosso alcance.


Acredito que a liberdade de ambos os sexos estará no fim do julgamento preconceituoso que tenta definir aquilo que cada sexo é capaz ou não. Felizmente acredito também que estamos cada vez mais próximos do momento em que não seremos classificados pelo sexo e sim, simplesmente, classificados como seres humanos. Eu sei... Falta MUITO ainda, mas sempre fui sonhadora e otimista!

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Onde mora a felicidade?

por Ana Raquel


Todos nós vivemos em busca de alguma coisa. Um trabalho dos sonhos, um amor, uma casa... Muitos podem ser os sonhos, mas o fim é sempre o mesmo. Buscamos a nossa felicidade. Mas será que a nossa felicidade está no óbvio? No mesmo sonho que sua amiga de infância teve?


Sempre imaginei que a minha felicidade era o padrão, sonhado por mim e por meus pais. Um emprego estável, um marido e mais tarde filhos. Fiz o esperado. Encontrei uma graduação que me apaixonou. Lá mesmo, me apaixonei pelo homem que julguei ser o certo. Seguindo o protocolo, no auge da paixão me casei. Seguindo o protocolo, deveria arrumar um emprego estável e logo depois, abrir a fábrica de fazer bebês. Entretanto, as coisas não seguiram bem o planejado. Estudei Ciências Biológicas e após me formar, enveredei-me cada vez mais pelo caminho da pesquisa no pós graduação. O emprego estável para mim seria dar aulas em alguma instituição particular ou pública. Entretanto, descobri que a paixão que sinto pela bancada do laboratório, desenhar estratégias de clonagem e ver o resultado final, são inversamente proporcionais ao que sinto por lecionar. Enfrentar uma sala de aula é algo que realmente não me faz feliz. O tão apaixonado casamento não foi feliz. A pessoa que julguei certa era incompatível.


Havia sempre conversas sobre um futuro filho. Instintivamente, talvez, nunca tive coragem de parar com a pílula. Sempre pensava “será que uma criança seria feliz aqui? Preciso pensar mais, preciso sentir que é a hora certa”. E a hora, nunca chegou. Hoje, estou divorciada e procurando um emprego que, ao final do doutorado, mantenha-me na pesquisa. Talvez, nunca sinta que é a hora certa de ter um filho. Talvez, se voltasse no tempo e visse o atual cenário, eu me assustasse... Ontem comemorei meu aniversário com minha amigas, que entraram em minha vida após o divórcio. Resolvi fazer um exercício e me lembrar dos meus aniversários dos anos anteriores. Aqueles em que passei planejando um futuro óbvio, não foram nem de perto felizes. Foram na cama chorando por alguma briga sem razão, ou sozinha e imaginando que no próximo ano seria melhor. Ontem pensei... O próximo ano não precisa ser melhor, pode ser exatamente assim. Agora estou feliz.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Independência ou Morte!

por Ana Raquel


Sou uma pessoa de misticismos muito particulares. Tenho minhas manias, uma definição de Deus extremamente particular, que já tentei definir para algumas pessoas, mas geralmente me pego perdida e confusa dentro do meu próprio discurso. Sou independente por natureza ou talvez pelas circunstâncias do meu nascimento.


Sou a filha do meio. Fui planejada pelos meus pais, assim como meus dois irmãos. Minha mãe sempre usou a tabela para evitar a concepção e milagrosamente e excepcionalmente, funcionou muito bem para ela. Minha irmã mais velha veio muito festejada. Eu, no entanto, apesar de bem recebida, fui uma decepção. Rsrsrsrs... Meu pai queria o homem, que jogaria pelada na rua com ele. Como sempre, meu pai muito prático e se adaptando a situação, fez de mim seu menininho até os quatro anos de idade, que foi quando meu irmão nasceu. Até os quatro anos, jogava futebol na rua, soltava papagaio, andava sem camisa e tinha os cabelos curtos estilo “Joãozinho”. Houve até um episódio em que um amigo do meu pai levou seu filho para brincar em nossa casa e, depois de passar a tarde inteira brincando comigo, o menino virou-se para o pai e disse: “Pai, por que todo mundo chama esse menino de Raquel?”. Essa é uma piada velha em minha casa. Meu pai repete essa frase rindo até hoje.


Bom, o que aconteceu após o meu irmão nascer, era o esperado... Fui deixada de lado. Há uma diferença de quatro anos entre minha irmã e eu. O que agora não representa muito, mas para infância é um intervalo grande. A partir daí começou o meu processo de independência. Brincava sozinha, pois meu pai, que era policial, sempre teve medo da violência de uma maneira traumatizante. Então, eu não podia brincar na rua com os vizinhos, como era habitual no meu bairro. Acredito que a partir daí, defini também minha profissão. Instintivamente montei um laboratório nos fundos da minha casa. Fazia experimentos com insetos e adorava preparar “venenos” e criar estórias de contos de fada que ficavam apenas na minha cabeça. Perseguia caramujos e casulos de borboletas. Virei bióloga e hoje sou pesquisadora. Passo os dias em um laboratório, exatamente como na minha infância. Gosto da independência e a persigo desde a adolescência.


Nunca houve muita informação na minha casa. Meus pais extremamente tradicionais, não se sentiam a vontade para discutir assuntos de sexualidade com os filhos. A curiosidade, que é óbvia em minha personalidade, foi que se encarregou de me levar às informações necessárias. Perdia aulas no colégio entre as estantes da biblioteca, procurando informações sobre sexo, corpo humano ou qualquer outro assunto que despertasse o meu interesse. Tanto que, sentindo-me senhora de tudo e muito esperta, não contei para ninguém quando menstruei. Fui à farmácia e comprei meu absorvente sozinha aos 12 anos. Apenas não contava com um problema... Tive uma descamação contínua do útero, o que fez com que minha menstruação durasse mais de 20 dias. Comecei a achar estranho que meu fluxo durasse mais do que eu havia pesquisado e resolvi contar a minha mãe. Ela assustadíssima levou-me à ginecologista, mas eu já estava com uma anemia bem acentuada. E assim foi meu primeiro contato com a pílula. O tratamento para suspensão da menstruação foi a pílula, além de muitas cápsulas de complexos vitamínicos e bife de fígado por um bom período (não suporto nem sentir o cheiro até hoje).


Assim como a menstruação veio sem qualquer conversa com minha mãe, veio também o início da vida sexual. Fiz sexo despreparada e sem vontade devido à pressão que meu namorado na época fez sobre mim. FOI HORRÍVEL!!! Após a experiência, senti-me tão mal que terminei o namoro. Só resolvi fazer sexo novamente depois de dois anos, completamente apaixonada. FOI EXCELENTE!!! Rsrsrsrs. Seguindo o padrão de me virar sozinha, marquei uma consulta com a ginecologista e pedi a prescrição da pílula.


Desde os 18 anos tenho tido uma ótima relação com a pílula. Nunca sofri efeitos colaterais. Aliás, a pílula foi um remédio em um segundo momento da minha vida, quando fui diagnosticada com ovários policísticos. Após alguns meses de tratamento com uma pílula com uma dosagem um pouco maior de hormônios, fiquei livre dos cistos. Namoros, casamento... Vieram e foram. Mas, a pílula continuou minha aliada nesta busca pela independência.

quarta-feira, 28 de julho de 2010

LIBERTAS QUÆ SERA TAMEN

por Cássia Juliana


A verdade é que a mulher continua sendo uma escrava da pressão social. Há 50 anos, a mulher conquistou sua liberdade sexual. Com poder de comando sobre a gravidez, pôde evoluir intelectual e profissionalmente. Como consequência, veio a liberdade financeira. Pronto. Poder-se-ia dizer que a mulher havia se tornado complemente livre. Certo? Errado.


Independentemente do nível social, econômico ou cultural, a mulher tem uma necessidade intrínseca de se espelhar em algo, para prestar contas à sociedade em que vive. Esse “algo” varia de acordo com o tipo de ambiente onde a mulher em questão cresceu. Pode ser tanto um padrão de beleza, como intelectual, ou, ainda, um padrão comportamental. Recuso-me a citar exemplos ligados à chamada indústria da beleza, porque não existe nada mais batido que isto. Portanto, vamos a situações menos exploradas: Quem não conhece uma mulher solteira que se vê obrigada a ser brilhante e super bem sucedida profissionalmente, pelo simples fato de ser solteira? Parece uma teoria da compensação, se você é solteira, tem que ser brilhante profissionalmente e ganhar rios de dinheiro. Há ainda, casos em que a mulher se obriga a levantar certas bandeiras simplesmente para explicar, ou melhor, para justificar a situação em que se encontra, por exemplo, a mulher casada e com filhos que, por questões financeiras, precisa abrir mão de certas vaidades, como salão de beleza e roupas da moda, para prover a família. Essa mulher comumente sai por aí pregando o quanto a maternidade é especial e “liberta” a mulher do apego a supérfluos. Será que essas mãezonas realmente pensam assim? Será que a maternidade tem o poder de privar a mulher de parte da sua feminilidade? Sinceramente, acho que não.


Em suma, no meu entender, a pílula trouxe sim liberdade, mas nós mulheres precisamos nos libertar de nossas próprias amarras, de nossos próprios preconceitos, para sermos felizes e plenas com o que temos e somos, independentemente do que dizem a sociedade, a mídia, o vizinho, a família etc. Digo tudo isso como mulher que, assim como tantas outras, cede às pressões sociais e levanta bandeiras embusteiras, porém, com a consciência de que este não é o caminho correto.